Nosso estudo global quantitativo sobre os diretores de dados (CDOs), o primeiro do gênero, mostra que as empresas falam cada vez mais sobre dados. No entanto, menos de um quarto delas tem um CDO no nível executivo estratégico, e eles se concentram em alguns setores e regiões.
Na última década, os dados começaram a transformar a vida social, econômica e corporativa. A quantidade de dados à disposição das empresas vem aumentando exponencialmente, graças à popularidade crescente de tecnologias de nuvem e à proliferação de dispositivos pessoais e de trabalho conectados em residências, lojas, escritórios e cadeias de suprimentos.
As empresas que buscam obter valor duradouro dessa transformação precisam entender, processar e gerenciar dados e algoritmos de maneira inteligente e eficiente. Ao mesmo tempo, devem abordar preocupações éticas e de privacidade do público e cumprir normas regulatórias. No entanto, a maioria das empresas enfrenta mais dificuldades do que o esperado para se adaptar a essa realidade, especialmente quando adotam aplicações de inteligência artificial (IA).
Nesse contexto, uma nova função executiva estratégica surgiu nos últimos cinco anos – os diretores de dados (CDO). Muito já foi escrito sobre o papel que um CDO pode desempenhar para maximizar o potencial operacional e comercial dos dados. Ironicamente, porém, não existem dados suficientes para monitorar essa ascensão do CDO.
Para entender melhor a situação, realizamos um estudo quantitativo detalhado sobre a participação e o papel dos CDOs nas 2.500 maiores empresas de capital aberto do mundo. Definimos CDOs como uma única pessoa no nível da alta administração ou um nível abaixo, responsável pela abordagem estratégica da empresa em relação a dados. Essa definição reflete nossa crença de que a nomeação de um CDO de nível sênior é essencial para equipes de liderança que buscam maximizar o potencial dos dados como um ativo estratégico em toda a organização.
Também investigamos a importância dos dados nos planos corporativos e a influência dos CDOs. Para isso, fizemos pesquisa de processamento de linguagem natural em relatórios anuais elaborados nos últimos cinco anos em mil empresas de todo o mundo.
Nossa análise de palavras-chave em relatórios anuais de mil empresas confirma que os dados aparecem com mais destaque nas apresentações aos investidores hoje do que há cinco anos. Isso também confirma nossas expectativas, já que todas as empresas precisam acompanhar o uso cada vez mais amplo de dados na sociedade.
Para entender essa tendência, medimos a frequência de dados – o número de vezes que uma empresa se referiu a dados ou termos relacionados a dados em seus relatórios anuais para investidores, incluindo os termos analytics, machine learning e IA. Nossa análise mostrou que uma empresa típica se refere aos dados 48 vezes em seu relatório anual – embora a frequência varie amplamente entre as empresas, desde uma ou duas menções até 200 vezes por relatório.
Descobrimos que dois terços das participantes do estudo tiveram um aumento generalizado de referências a dados desde 2017. A frequência de citações nesse grupo aumentou 78% desde 2017.
Número médio de referências a dados em relatórios anuais de empresas com frequência crescente de dados, 2017-2022
Número de CDOs contratados por ano
Essa pequena proporção pode ser vista de forma positiva, já que, até cinco anos atrás, o cargo de CDO era relativamente raro. Além disso, três em cada cinco CDOs são agora membros da alta administração e têm a função de supervisionar os dados de toda a empresa. Isso sugere que os conselhos e CEOs começam a apontar um único executivo como responsável pelo sucesso dos dados.
Quase metade dos CDOs identificados no estudo foram nomeados em 2019 e 2020. Pela movimentação nos primeiros meses de 2021, esperamos que outros 175 CDOs tenham sido nomeados até o final do ano. Após a covid-19, a questão é se a tendência de alta continua ou perde força nos próximos cinco anos.
Os CDOs são um fenômeno claramente da América do Norte e da Europa: um terço das empresas do estudo com sede na América do Norte tem um CDO, assim como um quarto das europeias. Globalmente, mais de 80% dos CDOs trabalham para empresas na América do Norte ou na Europa – cerca de metade nos Estados Unidos.
Como os Estados Unidos permanecem na vanguarda da revolução global de dados, é fácil entender a atração que as empresas americanas exercem sobre CDOs ambiciosos que buscam progredir em suas carreiras. A crescente presença de CDOs na Europa pode ser explicada, em parte, devido à região ter alguns dos regulamentos de proteção de dados mais rigorosos do mundo – principalmente o Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) de 2018 da União Europeia.
As empresas sediadas na região da Ásia-Pacífico têm um quinto da probabilidade de ter um CDO em comparação com as empresas na América do Norte. Na China, uma proporção crescente de empresas estatais e do setor privado tem um executivo sênior responsável por gerenciar e supervisionar dados de toda a empresa.
Descobrimos que as empresas com um CDO, em média, se referiam a dados de maneira defensiva com frequência 10% maior do que outras empresas. A frequência de referências à inovação era a mesma. Isso faz sentido, se considerarmos o aumento da vigilância dos reguladores e do público em geral sobre o uso de dados pelas empresas, com claras consequências financeiras para aquelas que violam as regras de privacidade e segurança de dados. Os CDOs podem usar a necessidade de tranquilizar os mercados e o público em relação à governança sólida e ao controle dos dados da empresa para ganhar credibilidade na alta administração.
A função de CDO está começando a ganhar força em alguns mercados-chave, em um contexto no qual os dados proliferam e as tecnologias baseadas em dados evoluem rapidamente. Mais e mais empresas estão “conversando” sobre dados com mais frequência com os acionistas. Isso, por sua vez, pode impulsionar a demanda por novos CDOs com atribuições executivas mais amplas.
Acreditamos que o aumento nas nomeações de CDOs nos últimos dois anos sugere que a função continuará a se fortalecer no curto prazo – mas em que medida e por quanto tempo é incerto, especialmente considerando que as empresas ainda estão absorvendo o impacto sem precedentes da covid-19.
Com base nos resultados desse primeiro estudo sobre o CDO, recomendamos que as empresas abordem uma série de questões essenciais, independentemente de já terem nomeado um CDO ou de estarem apenas avaliando como definir essa função. Também identificamos questões-chave a serem consideradas pelos CDOs atuais e os aspirantes.
Rebecca Chandler, John Studley e Siddarth Kalasapur também contribuíram para este artigo.
Realizamos o primeiro estudo sobre a participação e o papel dos CDOs nas 2.500 maiores empresas de capital aberto do mundo. Incluímos apenas CDOs no nível da alta administração ou um nível abaixo. Também usamos pesquisas de processamento de linguagem natural para analisar mil relatórios anuais dessas empresas e investigar se há uma ligação entre as organizações que empregam CDOs e o destaque que os dados têm nos planos corporativos.